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Antes as comunidades produziam apenas 10 quilos de farinha por semana, hoje o processamento chega a 40, com padrões de higiene e qualidade. Fotos: Divulgação Embrapa |
No coração da região Bragantina, no Pará, comunidades quilombolas estão mostrando que tradição e ciência podem andar juntas. Com apoio da Embrapa, a produção artesanal de farinhas de cará-roxo, araruta, banana-da-terra, pupunha e tucumã ganhou escala agroindustrial, gerando renda, abrindo mercados e valorizando a sociobiodiversidade amazônica — tudo isso mantendo a floresta em pé.
O avanço veio com o Projeto Quirera, primeira iniciativa de inovação social da Embrapa no estado, em parceria com a Rede Bragantina de Saberes e Sabores. O coletivo reúne agricultores de mais de dez municípios paraenses e aposta em tecnologias simples, adaptadas com criatividade junto às comunidades.
Impacto positivo
Onde antes se produziam apenas 10 quilos de farinha por semana, hoje o processamento chega a 40, com padrões de higiene e qualidade. Equipamentos improvisados — de fritadeiras elétricas a ventiladores domésticos — se transformaram em soluções acessíveis para garantir eficiência e reduzir perdas.
Segundo Laura Abreu, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e coordenadora do projeto, a criatividade técnica diante da escassez de equipamentos industriais e das dificuldades logísticas foi determinante.
“A ausência de maquinário adequado e a distância dos centros urbanos exigiram soluções criativas. Secadoras elétricas de outras unidades da Embrapa ganharam resistências de fritadeiras; ventiladores comuns e carrinhos de padaria foram transformados em tecnologias agroindustriais de baixo custo e fácil manutenção”, explica.
Leiane Nascimento, jovem liderança da agroindústria Atavida, lembra como o processo era desafiador antes da adaptação.
“Secar a matéria-prima era um problema, principalmente no inverno amazônico. Agora, com a nova tecnologia, conseguimos manter a produção com menos desperdício”, afirma.
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O projeto gera renda e pertencimento as comunidades locais, mantendo a floresta em pé. |
Resgate ancestral e nicho de mercado
Historicamente ligadas à mandioca, base da alimentação amazônica, as comunidades também produziam farinhas de milho e puba. Com o tempo, essas práticas foram ficando restritas ao consumo doméstico pela dificuldade do processo manual.
A retomada veio no fim dos anos 2000, com a Rede Bragantina, quando os produtos voltaram a circular em feiras e eventos em Belém. Mas a verdadeira virada ocorreu com a introdução de tecnologias adaptadas, capacitação e equipamentos que ampliaram a escala, reduziram perdas e elevaram o padrão de qualidade.
Hoje, farinhas sem glúten e de alto valor nutricional conquistam espaço significante em panificações e receitas criativas, abrindo um nicho de mercado sustentável e inovador no Pará.
Para Mauro Pinto, pesquisador da Embrapa Agrobiologia, essa sinergia é essencial:
“A Embrapa estimula e fortalece ações que priorizam a construção coletiva de conhecimentos e tecnologias como estratégia para potencializar a inovação nos territórios, gerando valor e impactos positivos para as comunidades envolvidas e para toda a sociedade.”
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A iniciativa visa fortalecer a produção artesanal de farinhas e replicar o modelo em outras comunidades tradicionais |
Futuro inspirador
O Projeto Quirera já inspira novas iniciativas e tem potencial para ser replicado em outros territórios amazônicos.
“Nosso sonho é que pequenas agroindústrias se multipliquem, levando dignidade, saúde e floresta em pé por toda a Amazônia”, projeta Laura.
Ao unir saberes ancestrais e ciência acessível, o projeto promove uma verdadeira revolução de sabores a partir de ingredientes tradicionais da Amazônia. O resultado é a construção de uma bioeconomia forte e sustentável, que gera renda e fortalece o pertencimento das comunidades. Este modelo demonstra que a inovação social é a chave para o crescimento na região.
*Com apoio da Assessoria de Imprensa da Embrapa